domingo, 19 de outubro de 2014

Estradas.





O primeiro abastecimento no quilômetro 463 revelou

o cheiro do látex queimado no asfalto.

Duas contas pagas no posto, com um cafezinho, e o

primeiro contato com os vivos fora do carro.

- O senhor sai ali na direita, no trevo, aí não

precisa ir lá na Serra não, corta caminho ali...

- Obrigado.

 

Seguimos a indicação, sob protestos do GPS.

Um som vago atrás de nós se aproximava. 

Relincho de trilhos logo desarcortinaram o

mistério.

Um trem cargueiro, emparelhado, dava boa tarde.

“Lá vem o trem...”, surgiu a lembrança dalgum 

texto...

Seguimos enamorados assim até que

O próximo entroncamento da BR promovesse o 

desencontro.

E então os vagões rústicos perderam-se ao leste, 

enquanto o trinar allegro dos metais adormecia

lentamente.


Um silêncio na rodovia.

A placa indicando sinuosidade fez seu convite à 

atenção.

Começamos a deslizar feito serpente, 

entre os gradis da mão-dupla e os insetos que vez em

quando se estatelam no para-brisa.


 

Uma surda pressão nos ouvidos lembrou-nos que

estávamos numa subida, e então vimos pela

angustura dos cerros os primeiros vales da terra 

prometida.

- Que lindo!

Resolvemos parar ali para admirar a natureza:

Quem habita aquela casinha?

A igrejinha azul convida os viajantes.

A beleza e a solidão.




                   Boa viagem!